O bem estar que se sente ao retornar a casa, agora já impa e organizada, com os objetos postos no lugar que ora lhe fora destinado, a roupa limpa e passada exalando bom cheiro das gavetas... E o melhor disso tudo, não ter empenhado força física ou tempo pessoal algum para que meu lugar volte a ser o centro de aconchego, para que a casa e, por uma ligeira extensão, eu também me reorganize no tempo e no espaço que ora ocupo. Curioso ainda se observarmos que uma diarista pode identificar, ordenar nosso espaço tal qual o desejamos. A imagem de uma casa limpa e organizada ao fim do dia é sempre um sinonimo de prazer, remete-nos a sensações de bem estar. Até mesmo a estante retoma sua boa imagem - de portadora dos escritos e bons livros... A função da "diarista" é o que sugere também a teoria fenomenológica ao conhecimento. Limpar os conceitos, arrastar os "armários" que ainda separam a consciência sensível da razão, levantar os tapetes que disfarçam a representação, lavar vidraças e espelhos para que nosso olhar se multiplique, retirar as teias e poeiras impostas à imaginação. Para que então seja possível encontrar-me no meu lugar. Somente por causa de mim/da minha existência que o meu lugar se faz presente, se apresenta como uma morada. Por causa desse jeito "diarista" da fenomenologia, veio à tona pensar que a consciência humana de fato não carece separar a percepção do sentido racional das coisas. Para tanto é preciso acordar que não é necessário impor tantas diferenças entre corpo e alma, como pretendia a filosofia moderna e seus discretos liberais. A fenomenologia da percepção propõe uma descrição conjunta de corpo e alma, pois para Merleau_Ponty a alma está presente nas manifestações do corpo. Eis o que me parece ser umas das antinomias propostas no percurso desse autor - consolidar uma trajetória comum a alma e corpo, entendendo-as como complementares de uma coisa ou substância.
Tudo ao mesmo tempo agora
Merleau_Ponty nos indica que a alma só pode se fazer presente, porque existe um corpo que a presentifica, uma fala que descreve seus pensamentos e idéias, num lugar e num tempo vivenciados. Tudo ao mesmo tempo agora mesmo!
A estreita linha que perpassa a sensação e a percepção esgarça-se...claro, pois sob a lente da teoria do conhecimento, ou seja, da reflexão filosófica, vamos observando um caleidoscópio de possibilidades, de combinações que a nossa consciência pode fazer, pensar, significar, perceber...
Não é preciso estabelecer graus de intensidade, ou de complexidade quando falamos de conhecimento sensível. Tudo pode estar fazendo parte ou mesmo ser o todo...
A sensação não é imparcial, disso já sabemos. Tampouco nos chega pontualmente, nem dá sinais de que seja elementar sua procedência ou permanência.
A percepção possui grandes características quando mensuramos seu poder para o conhecimento. Sua experiência pendura muitos significações, tal qual um varal de roupas ao fim do dia _ estende-se vivências, sentidos, histórias de vida e de mundo.
O mundo exterior não é uma coleçao de caixinhas postas numa estante, combinando entre si. Muito menos ainda um soma de coisas isoladas, iguais a pequenos souvenir’s que trazemos de viagens diferentes e dispomos numa só mesa, e mesmo assim, possuem sentido por si mesmo. Uma paisagem não é um amontoado de coisas sem vida ou com vida independente, sem conexão com o ambiente, com as cores, sem sentido, desprovido de forma. Uma imagem pode remeter nossa consciência a belas formas e boas lembranças, como quando vemos uma foto ou uma pintura, compondo uma parede. Mas também pode ser um terror a outras tantas consciências, se trouxerem algum traço de tristeza ou cansaço como poderia ser o caso de um viajante que encontra mais uma montanha em seu caminho. Fica fácil então entender que na percepção o mundo possui forma e toma sentido conjuntamente. Quem faz esta junção são os próprios sujeitos dessa história. Por isso também que a percepção é uma relação (do sujeito com o mundo externo). Um faz sentido ao outro, um não existe sem o outro.
Esse mundo percebido pode ainda ganhar novos sentidos e valores, pois se somos sujeitos ativos, as coisas vão tomando forma e presença a partir da nossa percepção, Interagindo com o mundo. Esse mundo ofertado pela percepção é ainda uma grande forma de comunicação que podemos estabelecer com as coisas e com @s outr@s.
A estreita linha que perpassa a sensação e a percepção esgarça-se...claro, pois sob a lente da teoria do conhecimento, ou seja, da reflexão filosófica, vamos observando um caleidoscópio de possibilidades, de combinações que a nossa consciência pode fazer, pensar, significar, perceber...
Não é preciso estabelecer graus de intensidade, ou de complexidade quando falamos de conhecimento sensível. Tudo pode estar fazendo parte ou mesmo ser o todo...
A sensação não é imparcial, disso já sabemos. Tampouco nos chega pontualmente, nem dá sinais de que seja elementar sua procedência ou permanência.
A percepção possui grandes características quando mensuramos seu poder para o conhecimento. Sua experiência pendura muitos significações, tal qual um varal de roupas ao fim do dia _ estende-se vivências, sentidos, histórias de vida e de mundo.
O mundo exterior não é uma coleçao de caixinhas postas numa estante, combinando entre si. Muito menos ainda um soma de coisas isoladas, iguais a pequenos souvenir’s que trazemos de viagens diferentes e dispomos numa só mesa, e mesmo assim, possuem sentido por si mesmo. Uma paisagem não é um amontoado de coisas sem vida ou com vida independente, sem conexão com o ambiente, com as cores, sem sentido, desprovido de forma. Uma imagem pode remeter nossa consciência a belas formas e boas lembranças, como quando vemos uma foto ou uma pintura, compondo uma parede. Mas também pode ser um terror a outras tantas consciências, se trouxerem algum traço de tristeza ou cansaço como poderia ser o caso de um viajante que encontra mais uma montanha em seu caminho. Fica fácil então entender que na percepção o mundo possui forma e toma sentido conjuntamente. Quem faz esta junção são os próprios sujeitos dessa história. Por isso também que a percepção é uma relação (do sujeito com o mundo externo). Um faz sentido ao outro, um não existe sem o outro.
Esse mundo percebido pode ainda ganhar novos sentidos e valores, pois se somos sujeitos ativos, as coisas vão tomando forma e presença a partir da nossa percepção, Interagindo com o mundo. Esse mundo ofertado pela percepção é ainda uma grande forma de comunicação que podemos estabelecer com as coisas e com @s outr@s.
Um campo perceptivo é possível
A percepção depende das coisas, precisa do corpo para se apresentar, do mundo e de nossos sentidos. Depende também de um mundo exterior e interior. Por isso seria de fato adequado falarmos de um campo perceptivo, afinal tantas relações e tramas existentes, só poderiam cogitar uma rede complexa de entendimentos e significações. A percepção é antes de mais nada uma conduta vital, uma comunicação e uma interpretação do mundo, a partir de relações entre nosso corpo e o mundo. Ela envolve toda uma teia que faz e refaz nossa personalidade, nossa história pessoal, afetiva, nossos desejos e paixões. Sem ela não há como estar no mundo. Parece-nos então, que a percepção não é uma ideia tão confusa ou menor, como julgava a tradição filosófica de tempos já nem tão modernos assim. Seu principal papel é ser um conjunto de significações que nos são perceptíveis, uma maneira de ter ideias sensíveis.
O visível é o que se apreende com os olhos,...
Para a teoria fenomenológica a percepção e vista como originária e parte primordial para o exercício do conhecimento. Ela se realiza a partir de perspectivas, de perfis.
É verdade que quando olhamos um objeto, só o observamos a partir de um lado,. Por exemplo, só olhamos o livro vermelho posto a mesa a partir de uma das suas faces. Mas nosso pensamento, nosso intelecto não relaciona a imagem do livro somente a uma capa - mas sim a uma idéia completa de um livro. Constatamos a existência de um todo, sem precisar examinar a contracapa, as folhas... Sabemos assim, que aquele objeto vermelho posto à mesa é um livro, porque já o percebemos como tal, com todas as suas partes presentes, mesmo que não esteja à minha vista. Pressupomos a figura de um livro em seu todo. Perceber requer então, intuir a própria pré-existência de algo que significa, que tem uma estrutura, uma forma organizada, neste caso, em livro.
É verdade que quando olhamos um objeto, só o observamos a partir de um lado,. Por exemplo, só olhamos o livro vermelho posto a mesa a partir de uma das suas faces. Mas nosso pensamento, nosso intelecto não relaciona a imagem do livro somente a uma capa - mas sim a uma idéia completa de um livro. Constatamos a existência de um todo, sem precisar examinar a contracapa, as folhas... Sabemos assim, que aquele objeto vermelho posto à mesa é um livro, porque já o percebemos como tal, com todas as suas partes presentes, mesmo que não esteja à minha vista. Pressupomos a figura de um livro em seu todo. Perceber requer então, intuir a própria pré-existência de algo que significa, que tem uma estrutura, uma forma organizada, neste caso, em livro.
O sensível é o que se apreende pelos sentidos.
Garoa do meu São Paulo
Um negro vem vindo, é branco!
So bem perto fica negro,
Passa e torna a ficar branco.
Meu São Paulo da garoa,
- Londres das neblinas frias -
Um pobre vem vindo, é rico!
Só bem perto fica pobre,
Passa e torna a ficar rico!
Garoa do meu São Paulo,
-Costureira de malditos-
Vem um rico, vem um branco,
São sempre brancos e ricos...
Garoa, sai dos meus olhos.
Um negro vem vindo, é branco!
So bem perto fica negro,
Passa e torna a ficar branco.
Meu São Paulo da garoa,
- Londres das neblinas frias -
Um pobre vem vindo, é rico!
Só bem perto fica pobre,
Passa e torna a ficar rico!
Garoa do meu São Paulo,
-Costureira de malditos-
Vem um rico, vem um branco,
São sempre brancos e ricos...
Garoa, sai dos meus olhos.
(Lira Paulistana, de Mário de Andrade)
O discorrer deste poema talvez indique, num primeiro momento que a percepção pode construir uma ilusão. A olhos mais atentos no entanto, que fazem bom uso da atenção, vamos ver que o poema em verdade provoca um olhar de múltiplos lugares e tempos. Percepções diferentes. Assim parece que vamos corrigindo nossas percepções a partir do campo de olhar que se amplia, que se aproxima do nosso entendimento. A percepção vai assim tomando formas mais precisas, a partir de si mesma. Claro, porque ela é tão real, corporal quanto nós mesmos. Um objeto ainda que não identificado plenamente, já nos é visto, percebido como algo. Vamos traçando um conjunto de acontecimentos e sensações que nos conduzem à definição das coisas.
Merleau_Ponty sugere um novo olhar sobre o ato da atenção, no sentido de que os dados preexistentes sejam entendidos como uma nova articulação, considerando-os a cada instante como mais uma unidade na história de um novo sentido, ou seja, que o uso da atenção, restabeleça um equilíbrio entre pensamento e percepção. Desconfio que o autor quer nos dizer que julgar as coisas não é percebê-las, aliás me parece que a percepção deveria anteceder ao juízo.
Perceber é diferente de pensar, mas isso não precisa significar uma condição inferior, uma imagem distorcida do pensamento. A percepção pode sim ganhar um novo sentido, um novo estatuto na origem do conhecimento humano. Mas para tanto é imprescindível retomar a reflexão, acordar que a nossa consciência a todo momento pode refazer seus passos, e assim ir constituindo um olhar sobre o mundo, carregado de novas imaginações.
O bacana dessa proposta é que a percepção se coloca como observadora das coisas, das pessoas, das situações. E quando se observa algo, se alcança as coisas, as pessoas, as situações vivenciadas pelo gesto, pelo perspectiva. Isso são faces diferentes que vão se articulando umas às outras, entremeando redes, num processo sem fim, podendo talvez enriquecer nosso conhecimento. Me atrevo a dizer que a pretensão da percepção é bastante tentadora. Ainda mais quando já temos a possibilidade de pensarmos em multiverso. Essa é uma palavra nova, inventada por cosmólogos para diferenciar o Universo em que vivemos de um outro que não só o contém, como também a todos os universos possíveis. Pensamentos e consciências desprendidas do uno, interligadas pelo todo. Eis um caminho possível...
Merleau_Ponty sugere um novo olhar sobre o ato da atenção, no sentido de que os dados preexistentes sejam entendidos como uma nova articulação, considerando-os a cada instante como mais uma unidade na história de um novo sentido, ou seja, que o uso da atenção, restabeleça um equilíbrio entre pensamento e percepção. Desconfio que o autor quer nos dizer que julgar as coisas não é percebê-las, aliás me parece que a percepção deveria anteceder ao juízo.
Perceber é diferente de pensar, mas isso não precisa significar uma condição inferior, uma imagem distorcida do pensamento. A percepção pode sim ganhar um novo sentido, um novo estatuto na origem do conhecimento humano. Mas para tanto é imprescindível retomar a reflexão, acordar que a nossa consciência a todo momento pode refazer seus passos, e assim ir constituindo um olhar sobre o mundo, carregado de novas imaginações.
O bacana dessa proposta é que a percepção se coloca como observadora das coisas, das pessoas, das situações. E quando se observa algo, se alcança as coisas, as pessoas, as situações vivenciadas pelo gesto, pelo perspectiva. Isso são faces diferentes que vão se articulando umas às outras, entremeando redes, num processo sem fim, podendo talvez enriquecer nosso conhecimento. Me atrevo a dizer que a pretensão da percepção é bastante tentadora. Ainda mais quando já temos a possibilidade de pensarmos em multiverso. Essa é uma palavra nova, inventada por cosmólogos para diferenciar o Universo em que vivemos de um outro que não só o contém, como também a todos os universos possíveis. Pensamentos e consciências desprendidas do uno, interligadas pelo todo. Eis um caminho possível...
Escritos entre janeiro até o carnaval de 2003, para uma das muitas matérias de Filosofia,que ainda consomem meus dias.
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